Quem fui eu?
Uma criança que acreditava em Papai Noel, na bondade humana, subia em telhado, tinha um mundo nas mãos pra fazer o que bem quisesse, mentia muito, sonhava com absurdos, quis ser piloto e astronauta.
Uma criança dividida, que nunca criou um cachorro, que jogava videogame, que não sabia fazer grandes merdas, que era PhD em pequenas merdas, que não brigava, que era covarde, que era tímida.
Uma criança que chorava sozinha, que na maioria das vezes se sentia sozinha, que tinha uma mente extremamente fértil, que era responsável, que precisava do mundo a seus pés mas não sabia como fazê-lo. Sonhava e ainda sonha demais. Esse fui eu.
Quem sou eu?
Um adolescente, alegre por isso, preocupado com idade e tempo que passa. Um flamenguista cheio de orgulho, menos covarde, menos sozinho, menos magro, menos preguiçoso, menos tímido, com menos amores, menos romântico, menos iludido, menos inocente, menos chorão. Um rapaz com espinha na cara, com óculos, com pouca paciência, que ri demais e terá rugas por causa disso, que fala demais, escuta demais, dorme demais e come bobagem demais.
Um bobo, que espera demais, se decepciona demais, acredita demais, se policia demais, tem pudores demais, se preocupa (muito) demais e fala sozinho. Um moço que tenta ser inteligente, tenta estudar, tenta ser promotor, investigador, tenta se formar, tenta ter paciência (e nunca consegue), tenta não ser grosso, tenta não chorar, tenta compreender e justificar. Eu sou um idealista, sonhador, sou interativo, sou de capricornio.
Sou brasileiro e não desisto nunca, sou Veiga, sou Flamengo, sou teimoso como uma mula (daquelas bem teimosas), sou alegre e, quem sabe, até feliz. Não perdôo fácil, não quero voltar e nem quero ficar, não sou responsável, não tenho emprego, não tenho nada realmente meu, não tenho salário, não sou difícil de ler. Tenho amigos, tenho sede, de várias coisas, tenho vergonha, tenho livros, tenho meu quarto, tenho duas camas, tenho medo de palhaço (o outro medo eu superei), tenho certeza que amigos é a família que nos deixaram escolher, tenho mais amigos do que dedos nas mãos e pés. Minto menos do que antes, choro menos, nado, danço, já quis me formar em engenharia (que piada!), quero ser cientista político, diplomata, bacharel em relações internacionais, quero ser promotor, delegado, investigador, quero ser Juiz.
Gosto de sorvete, cavalos, livros, quadrinhos, fantasia medieval, segredos, gente do bem (e algumas do mal). Gosto do meu sotaque, de coca-cola, de aprender, da cor azul, do mar, do meu EU. Odeio pedantismo, grosseria, mentira, inveja, clichês, gente chata, burrice, jiló, sujeira, solidão, preconceito. Admiro a coragem. Admiro quem faz o que quer. Detesto quem finge que faz o que quer.
Eu sou alguém que mudou muito poucas coisas, que fez menos bem do que deveria, fez mais mal do que deveria. Queria cantar que nem a Marisa Monte, cozinhar que nem Cadu, escrever que nem Luis Fernando Veríssimo e Saramago, queria que as pessoas que eu amo soubessem como as amo. Queria ter sido o autor de vários livros, queria ter estudado em Hogwarts, queria ter cantado mais, queria falar bem umas doze línguas.
Quero agradar. Quero fazer sorrir. Quero ser sincero, mas em demasia faz mal (que nem cerveja, mais ainda assim... bebemos demais). Quero ser feliz. Quero acreditar. Quero ver um milagre antes de morrer, ter filhos antes de morrer, quero ler, ler e ler, e se der, ser lido. Quero o mundo a meus pés e ainda não sei como fazê-lo. Esse sou eu.
Quem serei eu?

Se tudo der certo, secretário-geral da ONU, diplomata, Juiz, professor universitário, ganhador do Nobel, escritor mundialmente famoso, casado com uma mulher que eu ame pelo menos mil vezes mais do que todas as que (acho que) já amei até hoje, pai de pelo menos 3 filhos biológicos e mais uns 3 adotados. Serei lembrado, mais religioso, já terei visto meu milagre, terei muitas rugas por sorrir demais.
Terei uma biblioteca faraônica, muitos cachorros, muito dinheiro, conhecerei o mundo todo e algo mais, terei todos os meus amigos e ainda mais, terei menos vergonha e paciência (se é que isso é possível). Terei dito várias verdades, sentirei muitas saudades de tudo e todos. Terei aprendido que não preciso do mundo a meus pés. Que não preciso de tanto dinheiro, nem de tantas ambições, nem de tantas coisas. Terei aprendido mais coisas do que jamais achei possível. Terei enterrado grandes amores, literal e metaforicamente, terei menos medo da morte, terei sabedoria, terei cheiro de velho (mas não de mofo). Serei velho, gordo, careca, meio cego, ainda rindo demais, e apesar disso tudo, além disso tudo e com isso tudo, serei feliz. Esse serei eu.
Se Deus quiser...